Jorge Bandeira
Alguém de minha família já havia me falado de um avô meu que adorava andar nu, e que não se importava jamais com que os outros comentavam sobre este seu peculiar comportamento. Além do
passado de meus ancestrais índios, eu, manauara “da gema”, acho que este avô que adorava estar sem roupas deu uma parcela importante de contribuição ao surgimento desta vontade que fez aflorar o nudista que há muito habita meu ser. Outro dado importante para esta pequena narrativa: quando garoto, aos 10, 11 anos de idade, admirava um colega de minha faixa etária, apelidado por nossa turma de “panterinha”, este amiguinho tinha uma particularidade que eu muito apreciava e que me deixava muita das vezes confuso, já ele ficava boa parte de seu tempo completamente nu, seja na sua casa ou mesmo na rua, onde brincávamos todos juntos. Nossa turma era formada por meninos e meninas, e nenhum de nós se importava com a nudez do “panterinha”. Achava realmente aquilo fascinante, como a família dele não ligava para o fato dele estar sempre nu, inclusive fora de sua casa? Aquele fato foi outro catalisador de minha futura vida como naturista. Foi chegando minha
adolescência e a vontade de ficar nu crescia cada vez mais dentro de mim, juntamente com as aventuras relacionadas ao sexo. Porém, acreditem, a nudez era uma sensação de liberdade que para mim ultrapassava o ato sexual. O estar nu para mim sempre teve algo de transcendente, ritualístico, mágico e incrivelmente natural, só lamento que minha família não seja naturista, só assim entenderiam meu desejo inconteste pela nudez encarada como a essência do ser humano. Hoje tenho o Naturismo como parte integrante de minha vida, esperando, sinceramente, que meus familiares, amigos e amigas compartilhem comigo da felicidade que é estar nu, em contato direto com a natureza e suas belezas.
Roberto
Recém ordenado sacerdote (1961, quase 50 anos!) trabalhava na periferia de Paris. Gostava de comprar revistas quando, um dia, encontrei “La Vie au Soleil”: homens pelados, mulheres peladas, que é isso? Me deu vontade de fazer uma experiência, pura curiosidade e aventura. Quando servi o exército, me acostumei a tomar banho nu com os demais soldados. Procurei o endereço da Federação Francesa de Naturismo, me apresentei e expressei o meu desejo de conhecer melhor o naturismo. Quando disse que era solteiro, me responderam que não poderia, pois aceitavam apenas casais ou pessoas acompanhadas. Fui embora decepcionado. Outro vez voltei, e renovei meu pedido. Quando souberam que era católico me indicaram uma família católica que fazia parte da Direção Nacional. Serviram para mim de “padrinhos”. Durante as férias me convidaram a passar uma semana com eles numa praia naturista do sudoeste da França, um verdadeiro paraíso, uma cidade com todo conforto, onde todo mundo ficava sem roupa, mesmo os comerciantes...
Foi maravilhoso.
Freqüentei alguns sítios e piscinas da região de Paris. Gostei muito.
Em 1968 me pediram de começar um trabalho em Belém do Pará, no Brasil, e depois na Transamazônica. O costume no interior do Pará é de tomar banho sem roupa, mas somente entre homens. Tem o banho dos homens e o banho das mulheres. Não pode se misturar.
Quando fiz um curso de português, em Petrópolis, estive até o Rio, e procurei o representante do naturismo no Brasil. Encontrei um senhor muito simpático que me explicou que por causa da situação política e a ditadura militar eles suspenderam as atividades. Em Belém entrei em contato com João Carlos, mas ainda não tinha grupo formado.
Em 2007 me pediram de trabalhar em Sumaré, perto de Campinas. Participei das atividades do NIP. Me apaixonei por esse grupo muito acolhedor e fraterno. Em dezembro de 2009 fui transferido para Manaus, onde me entrosei com o Graúna. Estou começando a me apaixonar também, mas vão me perdoar se sinto ainda saudade dos meus companheiros e companheiras do NIP.
Para mim o naturismo, onde se cultiva o auto-respeito, o respeito do diferente, o zelo pelo meio ambiente...tem muito a contribuir pela construção de uma outra sociedade.
Iran
Quando criança aprendi que deveria sempre manter o pudor e assim foi infãncia e adolescência. Recordo que tinha vergonha de tudo, dificilmente alguém me veria na rua sem camisa. Já adulto fiz uma experiência no teatro que mudou meu modo de ver as coisas. Em 1993 fui convidado para atuar numa peça sobre o aborto e teria que ficar nu no palco, depois de três meses de ensaio e muita
dificuldade para vencer o senso comum sobre a nudez, despi-me no palco e a partir de então começou o trabalho mental para vencer o preconceito. Finalmente sinto-me um naturista, sendo um graunense.
Iva
A nudez faz parte de cada um de nós desde que nascemos, mas a convivência social ao natural, aos 46 anos, veio através de um amigo italiano, que me apresentou a um dos fundadores do grupo GRAÚNA, O Jorge Bandeira, na época apresentava a sua peça “AS 22 LÂMINAS “na qual os atores se apresentavam desnudos, assisti dois sábados seguidos, no terceiro sábado seria a última apresentação e todos deveriam estar desnudos. Recebi o convite de Jorge Bandeira para assisti o último dia, seria uma apresentação
especial. Cheguei atrasada, já estava começando, fui levada a sala onde havia cabides para pendurar nossas roupas, me despi, e desci para a sala do teatro. Cheguei na sala flutuando, leve, não me sentia, cruzei as pernas e assisti a peça toda. Conheci Iran Lamego, Padre Roberto Valicourt, me enturmei e já fui convidada para no dia seguinte ir ao sítio. Cheguei no sítio com padre Roberto, e Nicolas. Todos se despiram inclusive eu. A partir daquele momento me sentia livre e a cada mês percebia que não há melhor lugar para estar, pois todos me aceitam me respeitam, cada um cuida do outro. Graúna é filiado à FBrN (Federação Brasileira de Naturismo) estamos em Manaus, nos reunimos em um sítio no meio da floresta amazônica, na BR AM 010, onde vivenciamos o naturismo, lugar onde recarregamos as energias, onde aprendemos a nos aceitar, e respeitar ao próximo. Costumo dizer que vivenciando essa filosofia aprendi a olhar as pessoas com outro olhar, sem críticas, sem preconceitos e descobrir a real verdade sobre nosso corpo, somos nós mesmos quando despidos. Eu diria às pessoas: acreditem que cada ser tem o que é seu. Você é como tem que ser, te respeita, te ama, te aceita, agradeça todos os dias por ser o que és, e por ter o que tens. Vivencie um dia a nudez social, liberte-se, dispa-se.